Clube Zero (Club Zero 2023)

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The Story so far:

A teacher with extreme views on nutrition forge a bond with some studants in order to instill radical ideias.

You start by isolating young minds, offering then the impossible by nurturing false feelings

Sinopse:

Uma professora com uma visão perigosa sobre alimentação forja uma aliança com alguns estudantes na intenção de radicaliza-los.

l to r: Fred (Luke Barker), Ragna (Florence Baker), Helen (Gwen Currant), Elsa (Ksenia Devriendt) and Ben (Samuel D Anderson)

Crítica:

Clube Zero/Club Zero é sem dúvida alguma, um filme consistente, que atinge todas as metas estabelecidas pela diretora: impacta o público com um shock factor (Shock factor, is the potential of an image, text, action, or other form of communication to provoke a reaction of sharp disgust) impossível de ser mitigado, mescla drama e thriller psicológico com muita competência, é dinâmico e visualmente atraente com um roteiro é quase perfeito. O resultado é uma obra eficiente e complexa, destinada a agradar um público maduro.

As atuações são fantásticas, o compromisso dos atores com a trama da imensa credibilidade ao personagens. Os personagens adolescentes são complexos, demonstram uma mistura equilibrada de fragilidade, arrogância e imaturidade -emocional e intelectual. Este comportamento é o resultado de personagens adultos ineficazes, distantes e igualmente arrogantes. O roteiro demonstra, com muita sutileza, os efeitos nocivos de um ambiente hermético, que não se expõem a pensamentos divergentes ou a possibilidade de revisão e este é derradeiramente a intenção do filme.

Tecnicamente o filme é muito bom. À caracterização dos personagens e a ambientação são geniais e a fotografia é muito boa. A direção geral definitivamente é marcante.

Peer pressure in a nutshell.

Clube Zero/Club Zero é um drama impactante, um suspense sufocante, um thriller psicológico forte. O roteiro é eficiente e ágil, os personagens são bem construídos, a direção é bem focada e não deixa o filme se perder, cada aspecto da trama tem inicio, meio e fim bem definidos até a cena final, que sugere um filme sem um encerramento formal, permitindo que todos contribuam com o filme, introduzindo percepções pessoais a história.

O filme tem três protagonistas bem definidos. Ksenia Devriendt (Elsa), Luke Barker (Fred) e Florence Baker (Ragna) tem atuações impressionantes, que chamam atenção pela credibilidade e empenho na caracterização dos personagens que são únicos ao filme.

Os demais personagens tem espaço para protagonizar momentos críticos da trama. Mia Wasikowska (Ms Novak) é o catalizador de todos os eventos mas ela não guia os alunos nas respectivas decisões, servindo somente como reforço aos atos. Samuel D Anderson (Ben) começa a trama como um elemento enigmático mas tem um arco importante de desenvolvimento ligado a uma das principais personagens, dependendo dela para existir enquanto personagem.

Os demais personagens seguem, em maior ou menor escala, a mesma dinâmica do personagem de Anderson, já que dependem da interação com os protagonistas para ter existência.

O filme é dirigido por Jessica Hausner, que tem experiência com filmes suspense (Hotel 2004), terror (Little Joe 2019) e drama (Lovely Rita e Amour Fou respectivamente 2001 e 2014) e todos estes elementos aparecem na organização da trama de Clube Zero/Club Zero, tornando o filme uma obra complexa. O resultado é um filme singular, com uma estética familiar mas apresentada de forma peculiar, o que resulta em certa familiaridade sem nenhuma previsibilidade.

Hausner trabalha muito bem o enquadramento e o ambiente, optando por closes ou tomadas com a câmera mais fechada para garantir uma sensação de limitação do espaço e, consequentemente da possibilidade de divergência. A pressão social e psicológica é sentida através de uma escolha de cenários que aumentam a sensação de opressão.

A própria movimentação dos atores (sempre juntos reforçando a impressão de cerceamento físico, emocional e cognitivo) aparece claramente através da visão e posicionamento de câmera da diretora. Sair deste espaço se torna uma manifestação de independência afetiva e intelectual, ceder a estrutura do grupo resulta em opressão, conformismo e normatização de comportamento.

O roteiro de Clube Zero/Club Zero é multifacetado mas se organiza em torno de da ideia do transtorno alimentar. A impressão inicial nos leva a acreditar que os alunos estão lidando com a comida através de uma nova visão mais humana e consciente. Contudo este é somente um fino verniz da trama pois, posteriormente, abordará de forma direta o controle de informação, pressão social, isolamento social e afetivo, misticismo, religiosidade, idolatria e o culto a personalidade.

Todos estes elementos deixam claro que este é um filme que apresenta uma crítica severa ao autoritarismo e se alimenta da mesma fonte, apesar das nuances mais acentuadas, que Die Welle – A onda, o paradigmático filme sobre a construção do autoritarismo moderno.

Hausner participa da construção do roteiro com Géraldine Bajard. Ambas trabalharam em Little Joe e Amour Fou e tem sintonia e coragem para interpretar assuntos polêmicos e transforma-los em filmes inteligentes, cruéis e eficientes, o exagero de adjetivação aponta para o impacto que o filme provocou.

L to R: Corbinian (Andrei Hozoc) and Joan (Sade McNichols-Thomas) are well adjusted kids

Veredito:

Clube Zero/Club Zero é um filme espetacular, com um roteiro denso, uma direção competente, ótimas atuações e uma fotografia familiar com uma organização estética que lembra bastante a obra de Wes Andeson, com um enquadramento perfeito, uma paleta de cores neutras pontuadas por nuances.

Independente de certos elementos suscitarem semelhanças com outras obras, Jessica Hausner é uma diretora com uma organização estética independente e características singulares na construção das histórias que pretende contar.

Esta autonomia criativa aparece fortemente no roteiro que nos induz a pensar que o filme se trata somente de uma abordagem doentia da nossa relação com o consumo de alimentos. Existem diferentes camadas e nuances na história.

Isso torna o filme uma obra instigante que demanda do público capacidade de reflexão e abstração. O tema complexo deve agradar quem gosta de um bom suspense e um drama inteligente. Existem cenas fortes e o tema abordado pode, em certa medida chocar pessoas mais sensíveis.

Nota: 4/5

Avaliação: 4 de 5.

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